quarta-feira

No poço um começo
Dedicado a quem me achar aqui

(um encontra o outro). Ei, quem é você? (pensando) Não lembro mais. Ah. E você, que faz aqui? Estou no fundo do poço. Disso eu sei, na verdade quero saber por que você está aqui: perdeu o emprego, descobriu um câncer, foi despejado? Fui trocado por outro. Eu também; pensei que algum dia alguém cairia aqui por outro motivo, mas é sempre o mesmo. Você não lembra quem é, mas sabe por que está aqui? A gente esquece tudo, mas nunca esquece que foi trocado por outro. E eu que pensei que chegaria aqui sozinho. A gente sempre acha que está sozinho no fundo do poço. Enquanto caía, eu pensava: o que teria além do fundo do poço? Tem lama, terra e algumas pedrinhas, que eu sinto. Ou seriam bichinhos? É tão escuro... Li certa vez que no fundo do poço do poço do poço do poço eu descobriria quê. Que o quê? O autor não disse... só escreveu “quê” e pôs um ponto final na história. Ah, talvez ele nunca tenha estado no fundo de um poço, você sabe: eles inventam. Ou vai ver ele caiu noutro poço; por acaso você acha que o seu é o único? Não, de maneira alguma... além do que, esse poço não é mais meu, agora é nosso. (os dois enrubescem) Sabe, eu acho que estou gostando de você. É? Eu também acho que estou caidinho, nos dois sentidos. (os dois riem, um pouco pelos nervos à flor do amor). Quer sair do fundo do poço comigo? Só saio depois de um beijo. (eles se beijam e ascendem).

2 comentários:

Nessita! disse...

mesmo estando no fundo de um poço, há possibilidade de ascender. adorei como a melancolia se transformou em esperança.

beijos

Dulce Miller disse...

E eu nem sei como caí aqui...mas gostei!