segunda-feira

toda segunda eu direi que te amo

para w.h.f.

Disse de si para si: não teria chiliques, não mandaria flores nem longas cartas de amor. Não pediria clemência, nem ajuda de ninguém. Não compraria presentes caros, nem o faria morrer de vergonha com um carro de mensagens bobas. Ficaria quieto, voltado para si, sofrendo sozinho. Porém, na primeira vez em que se reencontraram, perguntado, respondeu: estou bem, mas toda segunda eu direi que te amo, até que. E foi assim. Na primeira segunda-feira, disse que o amava em uma mensagem de telefone. Na segunda, mandou um torpedo pelo msn. Em outra, deixou um recado no orkut. Ligou para a ex-sogra e pediu que transmitisse o recado. Depois mandou um e-mail. Numa segunda-feira – estranhíssimo naqueles dias – enviou uma carta com selo e carteiro para o ex-namorado, que leu que alguém ainda o amava. Certa segunda, na madrugada, o recado ficou incompleto, mas perceptível na fachada do prédio da frente: ainda te a.... E a polícia chegou e ele passou o resto daquela segunda assinando papéis e sendo ameaçado e chamado de delinqüente. Na outra, estava lá, de novo, no prédio. Chamou o interfone e sussurrou eu ainda te amo. Em férias, viagens, sumiços, repetia a estratégia por meios eletrônicos e recados na recepção dos hotéis. Não falhou uma segunda. E também não deixou de amá-lo. Já não sabia se continuava apaixonado porque precisava provar a si que tanto empenho daria certo para tê-lo de volta, que fosse por apenas um dia – uma segunda? – ou porque o amava mesmo. Sempre discreto, ninguém poderia imaginar que ainda gostasse de alguém. Disse mil vezes em mil segundas-feiras que ainda amava, ao que o outro, depois de ter trocado número de telefone, endereço de email, encerrado a conta do orkut, enviado chantagens, perdido namorados, desesperado, na véspera de uma segunda, durante o Fantástico, aflito, acuado, temeroso em saber se receberia e como aquela mesma mensagem, desceu as escadas, caminhou pelas ruas vazias e bateu à porta dele. Não deixou que aquele inconseqüente falasse. Despejou toda a raiva concentrada de toda essa perseguição de eu te amos. Disse palavras rudes e pediu que não mandasse mais essas mensagens toda a segunda. Ele, porém, não respondeu nada, deixou que o outro terminasse, virasse as costas, fosse embora para pensar de si para si: não teria chiliques, não mandaria flores nem longas cartas de desculpa. Decidiu: a partir daquele momento, até que o outro entendesse, diria que ainda o amava todas as terças.

Um comentário:

Nessita! disse...

nossa! linda estréia para um blog. sabes que sou tua fã e que sei todo o teu potencial criativo. um blog vai ser uma excelente terapia. não sei se melhoramos, mas a insanidade ao menos é mais consciente.

bjus, meu amigo do coração!